"Se não é pela arte, pra que a alma pesando o corpo?" - Caio Soh

sábado, 3 de dezembro de 2011

Bohemian Rhapsody


Se eu pudesse desestruturar o mundo e ter você pra mim...
Mas você é inalcansável.
Doce e eterno inalcansável você.
E as dores continuam...
Indubitáveis, intermináveis, estáveis.
Ter você, seria como mergulhar no mar, e por um segundo
[ouvir o próprio coração bater forte, duradouro.
A sua presença ausente não preenche o buraco fundo que você,
[desavisado, esqueceu de tampar no meu coração.
Mas eu não posso nada disso.
Eu não existo em nada disso,
e para ser bem sincera comigo mesma,
nem mesmo você existe nisso.
Você foi e será apenas um sonho da vida,
que ela mesma tratará de apagar...
Apenas quando for necessário.
"Carry on, carry on, like nothing really matters"


Créditos: Foto tirada por Isadora Relvas - http://vestindoodelirio.blogspot.com/

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Abraços Partidos

Deixa-se os braços abertos e espera-se que seja suficiente
Mas nunca é. Nunca será suficiente.
Fecho meus olhos e espero que meu corpo o sinta.
Minha pele nua espera...
Não se sabe o que. É a espera incessante.
Angústia, angustiante.
O desejo e o prazer se encontram, mas não faz parte de mim.
Me debruço e me debato em angústia.
Meu corpo mutilado se reflete no espelho escuro.
As sombras engolem meu ser, bebem meu corpo no gargalo seco.
Não tenho mais para dar, já acabei-me em mim.
Doar-se é como permanecer com os braços abertos
É aquela espera incessante.
É padecer em corpo sem alma nem coração,
Para se viver em corpos alheios.
São mortes e vidas dentro de uma mesma vida.
Morrer em mim aquilo que desgosto.
Para recriar-me cada vez mais paixão e espera.
Incessantemente...

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Pedaços, retalhos, recortes e afins

E se eu não quisesse me apaixonar?
E se eu não quisesse me partir em dois cada vez que te vejo?
E se me partir em dois fizesse parte da minha natureza?
Me quebrar e me partir e me dividir em dois...
cada vez que abro os olhos pela manhã.
Deixar um pedaço de mim cada vez que me movesse
uma impressão da minha vida, uma impressão minha em cada ambiente.
E se o seu trabalho fosse juntar os pedaços,
atar os cacos, colar-me em ti...
Colar-me em mim, e descobrir-me aos poucos.
Para enfim descobrir-me inteira algum dia.
Não é disso que a vida é feita?
De deixar-se a cada momento para trás
e descobrir pedaços de outros...
Até que enfim os pedaços se juntem em um único indivíduo
Junto de vários outros,
onde dois pedaços metamórficos e retalhados se juntem
Em apenas um pedaço. Pedaço inteiro. Dois que são um.
Juntos.
A história da vida.

sábado, 20 de agosto de 2011

Raiva

Me perco nas entranhas de mim mesma. É assim que devia ser?
Uma raiva desconhecida me consome e eu nem ao menos sei do que se trata.
Preciso colocar a mão fundo, dentro daquilo que me come por dentro, e arrancá-lo sem demora e sem promessa. Sem a esperança de que se esvaia no com-sentimento mútuo da saudade.
Se o sangue sair e as entranhas se contorcerem no processo, prometo que não conto aquele segredo nosso guardado à sete chaves.
A raiva é guardada por 100% das pessoas que possuem nervos, estômagos, dores e plantas do pé.
A escrita compulsória que me consome e me tange como um mar a céu aberto, é apenas uma extensão do meu corpo insólito que de branco se veste quando sente você se aproximar.
É caça caída na escuridão da noite esperando o abate do dia consecutivo.
A raiva roendo as veias, como uma urticária alcoólica se mostra voraz e veloz assim que se abrem os primeiros momentos alvos.
Me batem ruidosas as ondas daquele mar insípido. Despejam o óleo verossímil em minha pele que arde ao simples toque. Não sou verossímil, sou lembrança. Sou desejo, sou ardência, sou raiva, sou vermelho. Doce, quente, tenro e vermelho.
Essa cor que me pinta as maças do rosto e me enche de angústia, que me acelera o peito, líquido e corrente, assim que se escancaram as primeiras portas de meu ser.
A lâmina prateada e fria que corta você em mim, que corta ansiedade incessante pela morte.
Anseio na noite quente e úmida para que o dia cegante chegue e me tire da incerteza.
E ele sempre chega. Indubitavelmente imperceptível.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Prateleiras II

Vejo tudo como um filme mal-feito e velho
Daqueles em que se sente frio na sala porque se
[percebe que a sala está vazia.
Os tons de sépia passam desavisados por meus olhos.
As vezes vejo você, mas rapidamente passa.
Você não me viu, estava com outra pessoa.
Eu não tenho você.
Me refugio nas tramas de minha prateleira.
Amo, odeio, adoro, rio, choro.
Você não está em nenhum desses sentimentos.
Você não quer estar...

Prateleiras

Lembrei de você num filme na minha prateleira.
Revirei as revistas atrás de imagens que me trouxessem a sua memória.
Não pude te encontrar...
Você não estava lá, nunca esteve.
Você nunca foi parte de mim.
O desespero bateu irreconhecível e sufocante.
Incessantemente voltei a te procurar dentro de mim.
Cadê você?
Cadê você que não está aqui?
Procuro em vão aquela saudade que eu sentia ontem.
Era você. Apenas uma saudade.
Saudade daquelas que eu sonhei mas nunca tive.
Você se foi pela manhã, me deixando com vontade de voltar a dormir,
Para sempre.

terça-feira, 31 de maio de 2011

Brincadeira de Criança

Já tinha escrito esse texto há muito tempo, desde o meio de março acho, mas me esqueci de postar aqui.


"Essa semana me deparei com algumas coisas que não vejo há muito tempo.

É engraçado que só sentimos como o tempo pasou quando nos deparamos com coisas do nosso passado. Embra eu lute todo dia para que o mundo não mate a criança em mim, eu vejo a cada dia mais que isso é difícil. Não vou desistir. Até porque são coisas como as que eu vi essa semana que me dão esperança no futuro.

Comecei a ser monitora no colégio que eu costumava estudar. Como só começava à uma e eu havia chegado cedo, sentei-me no pátio do colégio, escutando meu Nerdcast e observando as crianças que brincavam.

Os próximos 30 minutos após esse meu ato me deparei com uma coisa incrível: vi dois meninos de seus 7 ou 8 anos brincando de amarelinha (jogo em que se pula números de um em um com o intuito de chegar ao "céu"). Claro que as regras do jogo já não eram mais as mesmas, nada resiste impassível ao tempo, mas resistiu a inocência, a simplicidade de pegar sua pedrinha e pular sobre marcas no chão.

Depois de algum tempo surgiram mais crianças, como não para a minha surpresa, inclusive mais velhos e mais novos do que os dois meninos. Incrível, parecia que por um momento eu havia voltado como um baque agradável à minha infância. Não durou muito. Triste.

E como outra agradável surpresa, no dia seguinte, no ônibus lotado, em pé, ouvindo Papo de Gordo, olhei para o lado em meio ao engarrafamento e vi uma garota de uns 12 anos sentada bem próxima à mim, indo contrariamente à tendência completa dos adolescentes da idade dela hoej em dia, com um CD recém comprado nas mãos. Achei que, tirando eu, alguns conhecidos, e algumas pessoas com mais idade que compramos CDs, ninguém mais, ainda mais na idade dela, comprava CDs, surpresa de novo. Voltei para casa pensando nas coisas boas da minha infância.

No dia seguinte baixei o novo episódio do Nerdcast, para minha surpresa sobre Tokusatsu, não esperava que duas semanas depois viria o de anime, para arrebatar a minha semana nostalgica, que quase se transformou em mês.

Lembrar de forma tão doce e tão inesperada, de coisas que eu achei que já tinham ido embora há muito foi maravilhoso.

Agradeço aos Nerdcasters, ao pessoal do PdG, à menina do ônibus, e à todas aquelas crianças do colégio por compartilharem essa lembrança comigo, mesmo sem saber. Obrigada."

Podcasts citados no texto:

Papo de Gordo: http://www.papodegordo.com.br

Nerdcast: http://www.jovemnerd.com/

sexta-feira, 4 de março de 2011

Amor Puro

Essa semana eu andava pela rua desavisada de que iria ouvir uma história maravilhosa.

Voltava da faculdade, dia cheio, andava rápido, precisava pegar o ônibus. Chovia um chuva fraquinha daquelas que molham.

De repente me chegou aos ouvidos a voz de um homem que caminhava ao meu lado.

Ele, ao que parecia, conversava com um amigo no telefone contando uma ida a um restaurante. Nesse restaurante o homem conheceu uma mulher, e ele, se apaixonou. Não me pareceu saber seu nome, mas se apaixonou.

É possível que ainda existam homens à moda antiga? Nunca havia pensado que eu ia presenciar esse tipo de conversa, o homem falava ao telefone: "[..] eu não conseguia parar de olhar para ela. Ela era simples sabe? Do tipo que não precisa de maquiagem para ficar bonita? A simpatia dela deixava ela bonita. Eu não consegui parar de olhar para ela enquanto comia. O garçon foi falar pra ela: 'Aquele senhor pediu para dizer que não conseguiu tirar os olhos da senhora desde que a senhora entrou no restaurante'".

O homem estava realmente falando da mulher como se tivesse acabado de encontrar o amor da sua vida.

Foi uma lufada de ar quente no coração em meio àquela chuvinha, àquele dia cheio. Me senti novamente esperançosa diante das possibilidades da vida.

Estamos precisando de mais homens assim na nossa convivência, homens que sejam capazes de se apaixonar pela simpatia de uma mulher num almoço de segunda-feira. Homem que contem aos seus melhores amigos (pelo telefone mesmo, antes de pegar um engarrafamento), como uma mulher não precisa de maquiagem para ser bonita, como a simplicidade pode ser apaixonante.

À você, pedestre trabalhador apaixonado de segunda-feira, meus cumprimentos, você possui a atitude certa para nos fazer acreditar novamente que o amor puro é possível, o amor simples.

E citando, um daqueles que é o meu ídolo: "Um amor puro, não sabe a força que tem [...]", Djavan.

quinta-feira, 3 de março de 2011

Sensações de Viagem

Você já viajou? Não quero dizer viagem de avião, nem de ônibus, nem viagem internacional.

Tô falando daquela viagem de verdade, de pegar o carro, se jogar na estrada, dirigir durante o dia, dormir à noite, e andar, meio sem rumo.

Quando eu era menor, eu, meus pais e meus irmão fizemos duas grandes viagens de carro, que duraram cerca de 20 dias cada, uma para o sul do país e outra para o nordeste.

Saíamos de casa ainda dormindo às 5 da manhã e rumávamos para a estrada, meio sem saber aonde íamos parar. Tínhamos o destino final sempre, na viagem do sul, Arroio do Meio (RS) onde mora uma tia minha, na viagem do nordeste, Porto Seguro (BA), mas obviamente, meu pai e minha mãe não ficaríam dois dias dirigindo direto, então, viajávamos pela manhã, na hora do almoço, ou mais tarde (umas 3 horas) parávamos em alguma cidade, rodávamos para conhecer um pouco, dormíamos e voltavamos às estradas no dia seguinte bem cedo.

Digo: "Não há nada como a sensação de viajar de carro". Aquela despreocupação, o prazer em rodar por estradas maravilhosas, paisagens bucólicas, conhecer o Brasil maravilhoso.

Nada se compara a sensação de se perder na estrada. É um medinho lá no fundo, mas uma vontade enorme de continuar na peregrinação, fazer enormes voltas, achar que o lugar onde você está não está no mapa, e segundos depois descobrir que vc tava olhando o mapa do lado errado. É sensacional. Impagável.

Era preciso que todos fizessem pelo menos uma viagem dessas na vida, pegassem o carro e saissem sem rumo. Quando desse vontade de voltar pra casa, voltassem.

Dessa forma que conheci locais maravilhos do Brasil: Floripa, Curitiba, Porto Alegre, Conceição da Barra (onde voltei no ano seguinte, e no seguinte), Blumenau, Balneário de Camboriu, Vitória, e muitas outras cidades.

A sensação de liberdade é embreagante, é viciante. Viajar é o meu vício, amar meu país.

Viajem! De carro, de bicicleta, de avião, de ônibus, à pé, de qualquer forma, viajem!

quarta-feira, 2 de março de 2011

Velas à todo Pano

Esse texto eu escrevi para o site do mangá que eu participo: Em Busca do Poder, para quem quiser entender melhor o texto dê uma olhada no site!

- Velas à todo pano, marujos! Meia guinada à estibordo! Inimigos à três horas!

- Sim senhor, capitão! Vocês ouviram o capitão, vamos acabar com esses bastardos! Façam com que Mórfilis leve com prazer esses escravos para o fundo do mar.

Já fazia algum tempo que o Capitão Joe “Bala de Canhão” vagava pelo mar atrás do grande e lendário navio do Capitão Krug, que dizia-se: era o único que seria capaz de derrotar o Dama Negra, o navio de Joe.

Esse dia havia chegado, quando vira o navio se aproximando no horizonte Joe sabia que aquele era o momento pelo qual havia esperado toda a sua vida, após aquela batalha ele seria o maior pirata de todo o Grande Continente.

Já chovia fazia alguns dias, o mar já não estava tão revoltado, mas a chuva insistia em cair. Enquanto o Dama Negra rodeava o Águia Marinha, Joe olhava penetrante para a proa do navio inimigo onde, ele sabia, estava Krug, seu adversário tão esperado.

Os canhões de Krug já mostravam à tripulação do Dama Negra que eles não estavam para brincadeira. O Dama Negra já havia sido avariado e nem sequer havia mandado seus primeiros recados para o Águia.

A curva estava quase completa, os homens de Joe pareciam calmos, sabiam exatamente o que seu capitão estava esperando. Era aquele momento, o exato momento em que os homens de Krug se arrumariam para colocar uma nova bala no canhão, eles já estavam acostumados àquilo, era uma estratégia básica que nas mãos do Capitão Joe parecia mágica, ou como alguns diziam, era pura música, das melhores.

O Capitão Krug andava correndo pelo convés gritando coisas. Joe apenas observava. Calma. Respiração. Ar.

- Fogo!

- Fogo!

Tudo parecia acontecer em câmera lenta, ao mesmo tempo em que Joe gritava fogo para seus subalternos, ouvia o som de Krug gritando fogo no meio da chuva. O estampido dos canhões deixou todos surdos por um momento, a fumaça subiu contrariamente à vontade da natureza, e por um momento todos perderam a visão no meio dos destroços e da fumaça que subiam.

Não levou muito tempo até perceberem que o hangar onde estava Joe na proa havia sido atingido, e que o capitão estava no chão.

A bela imediata de Joe subiu correndo até onde estava o capitão. Todos sabiam que diferentemente de muitos ali ela não temia a morte, não temia o inimigo.

Joe não perecia muito bem. O sangue escorria por sua perna, um imenso pedaço de madeira havia se soltado e entrado na lateral da barriga de Joe. Vitória, a imediata, havia sido apadrinhada por Joe havia muito tempo, então sentia a perda de seu capitão e de seu padrinho.

- Vitória, minha querida, esse navio sempre foi seu, agora acho que finalmente chegou a hora de você reivindicar seus direitos...

- Não, esse navio sempre será seu, capitão.

- Vitória, um bom pirata sabe quando não tem muito tempo mais de vida, e eu sei que sou um bom pirata. O navio é seu, e eu sei que você saberá como utilizá-lo. Esse capitão não é páreo para o que você aprendeu todos esses anos. É preciso sentir o navio, e você tem o coração para isso. Tome o controle desse leme marujo, isso é uma ordem.

- Sim capitão, como quiser.

Vitória tomou o leme em suas mãos e estava decidida, pois sabia exatamente o que fazer. Girou o leme fazendo com que o barco virasse à bombordo. A tripulação olhou nervosa a nova capitã. O que você está fazendo? Fugir não é uma opção quando se está no Dama Negra, capitã.

Vitória não ouvia nenhuma das reivindicações da tripulação, precisava levar o navio um pouco mais à frente, ela sabia exatamente como acabar com o Águia. Krug ria da nova capitã no leme.

Mais um pouco à frente...

- Atirem no Águia com o que tiverem à mão! Aquele navio precisa seguir o Dama Negra!

Então a população entendeu exatamente o que ela estava querendo fazer. A antiga arrebentação nas margens da Baía de Daiamost, não era um desafio muito grande atravessá-las, quando se estava prestando atenção nelas. Pela fama do Capitão Krug, Vitória sabia exatamente o que ele ia fazer. Sua fama de obsessivo era conhecida por todo o Grande Continente, ele nunca parava antes de afundar o navio, era exatamente o que Vitória queria.

Krug só teria olhos para o Dama Negra, ele jamais se lembraria de olhar a arrebentação, ainda mais com aquela chuva.

O Dama Negra avançava rapidamente quase deixando o Águia para trás. A chuva insistente limitava o alcance da visão de Vitória, porém ela sabia exatamente por onde estava navegando, já tinha feito aquele mesmo caminho tantas vezes com o Capitão Joe que achava que conseguiria navegar por ali de olhos vendados.

Krug avançava obcecado pelo Dama, era um belíssimo navio, e Vitória acreditava que ele queria incorporar ele à sua frota, preferia morrer afogada junto com o Dama Negra a ter que entregar seu navio à outro Capitão.

A arrebentação estava próxima e com alguma facilidade Vitória atravessou-a, o Águia vinha atrás.

Como se houvesse previsto o que iria acontecer, Vitória viu o Águia parar. Parecia que Krug havia ficado preso em uma das pedras altas da arrebentação, tão previsível...

Sem perder tempo Vitória virou seu navio e o colocou na posição perfeita para atirar no Águia.

Em alguns minutos os destroços do barco afundavam, e a tripulação se jogava do navio para a água. Eles não teriam salvação, Vitória já havia oferecido o navio à Mórfilis, e ele não deixaria que eles se fossem assim tão facilmente.

Vitória avistou, mesmo com dificuldade, uma grande onda se formando no horizonte. A onda crescia cada vez mais.

- Marujos, não desejo ficar aqui para que aquela onda leve o meu navio. Içar velas auxiliares, quero velocidade nesse navio.

A onda se aproximava cada vez mais e o navio ainda não havia se movido. A tripulação desesperada não conseguia seguir as ordens de Vitória.

A onda alcançou o barco mais rápido do que todos esperavam e antes que pudessem pular do navio ou fugir de alguma forma o navio já estava virando para dentro da água.

Vitória viu sua tripulação cair dentro d’água e depois se viu fazendo o mesmo. No instante em que tocou a água Vitória entrou em um turbilhão, começou a rodar embaixo d’água e desmaiou.

Vitória podia ver relances de seus marujos nadando desesperados, e outros mortos afundando, e por fim ela viu, lá no fundo das águas, ou o que ela achou ser o fundo, uma imagem bem familiar pros piratas. Ela viu um rosto, um rosto em chamas, mas antes que ela pudesse alcançá-lo, apagou novamente.

-------------------------------------------

Vitória abre os olhos e estranhamente está na antiga cabine do Capitão Joe, porém a cabine não é mais do jeito que era. Parece que todas as suas coisas foram trazidas para a cabine.

A Capitã se encaminha para a porta de seus aposentos e a abre lentamente.

- Bom dia, Capitã!

Todos os marujos estão de volta ao convés do Dama Negra, que repousa calmamente nas areias da Cidade de Tiligari.

- Como isso é possível?

- Desculpe, capitã, o que foi?

- Monlut, quem retirou o barco das águas da Baía.

- A Senhora capitã? Não se lembra? Há alguns dias saímos da Cidade do Porto e viemos até Tiligari para entregar um dos contrabandos de metais.

- Mas e a grande onda, e o navio Águia Marinha, e o Capitão Joe?

- Desculpe senhora, mas não sei do que a senhora está falando, deve ter sido um sonho. A senhora precisa de alguma coisa, capitã?

- Não Monlut, está tudo bem.

Mas não estava, e mente de Vitória não parava de dar voltas. Um sonho? Mas ela tinha visto claramente tudo o que aconteceu. O rosto, ela se lembrou repentinamente. Parecia que Mórfilis estivera brincando com a nova capitã.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Adotada

Eu escrevi esse texto para um concurso literário sobre adoção promovido pelo Grupo de Apoio à Adoção Quintal da Casa de Ana (www.quintaldeana.org.br) em 2007 e ganhei o primeiro lugar. Não era esse exatamente o fim que eu queria escrever, mas achei que ficaria meio estranho escrever um fim que parecesse "anti-adoção" uma vez que era uma campanha para a adoção, então mudei um pouco ele. Não gosto muito desse fim, mas enfim, não teve outro jeito.

Sim, isso mesmo que vocês ouviram, a-do-ta-da.

Na hora eu quis gritar, ou será que quis chorar? Bem, não sei exatamente o que era, mas aquilo foi me subindo pela garganta, me asfixiando, e como num grito, aquilo quis sair pela minha boca. Em vão. Minha boca não conseguia formar as palavras certas e como uma tristeza calada, meus olhos apenas alcançaram os de minha mãe num protesto silencioso.

Porque tantos anos de mentira? Por quê? E eu não acredito que eles não tenham me contado. Era tão simples. Sempre fomos tão apegadas, eu e minha mãe, será que devo chamá-la de mãe? Já não importa agora, queria poder sumir, ir para um lugar bem longe. Meu mundo foi construído numa mentira, ele era uma mentira.

Pensando melhor, acho que no fundo eu sempre soube, e eles sabiam disso, mas mesmo assim não me contaram. Minha... mãe, sim, minha mãe, na verdade ela sempre foi. A confusão em seu rosto quando contei que eu sabia e depois suas lágrimas de desculpas estão bem vívidas em minha memória, qualquer um abraçaria e choraria junto, eu não, eu apenas a olhei com desprezo, saí e a deixei lá chorando. Olhando para trás, para essa situação, me sinto tão monstro quanto achava que ela era naquele momento, na verdade me sinto mais.

Na época, eu quis conhecer os meus ais verdadeiros, minha mãe disee que ela não os conhecia, mas tinha os telefones do orfanato onde ela tinha me adotado. Ela ficou triste, mas achava que era meu direito saber. A princípio pensei em ligar imediatamente, mas tive receio de me decepcionar com a mulher que tinha me gerado. Pensei naquilo a semana toda, e por fim decidi que era melhor cuidar da minha mãe, ao invés de tentar achar a mulher que não me quis quando eu era pequena. Se não me quis naquela época, por que haveria de me querer agora?

Desde que descobri já se passaram 5 anos, eu, meu pai e minha mãe fizemos as pazes, e no ano seguinte eu ganhei um irmãozinho, que hoje está com 3 anos, e é alegria da família. Sou feliz, foi uma notícia difícil, mas sou feliz.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Pais

Escrevi esse pros meus pais. Li para eles no dia do aniversário de 25 anos de casados.

Vocês são meu chão, minhas asas, meu porto seguro,
meu ponto de partida e também meu ponto de chegada.
É por vocês que eu estou aqui, e é por vocês que eu vou continuar.
As brigas, as discussões, fazem parte.
Sem vocês eu não seria possivel, nada seria possivel.
Vocês me deram a vida e as escolhas, me abriram a porta.
Me mostraram que o caminho muitas vezes era difícil, mas que vocês estariam ali do
[meu lado quando eu caisse.
Vocês são o que há de bom e mau em mim.
Vocês são minha filosofia, meu alento, meu ombro, meu colo.
Vocês são os meus passos e o caminho atrás de mim.
Vocês são o que há de mais puro em mim.
Vocês são meus olhos, minha voz e as palavras que saem da minha boca.
Vocês são as pessoas mais importantes.
Vocês são o começo e o fim.
Vocês são meus pais, e obrigada por tudo.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Odeio Funerais

Não gosto de funerais, isso é um fato. Mas acho que de fato ninguém gosta.

Mas o meu não-gostar não se deve ao fato de o funeral envolver morte e dor e etc. A morte é algo que acontece, e vai acontecer com todo mundo, antes ou depois do que você imagina, e a dor de alguns é inevitável, então não é isso que me desgosta nos funerais.

Para mim há 2 tipos de funerais: aqueles em que pessoas próximas morrem (amigos, família, etc) em que você fica completamente desolado e chora, e sente a dor, e passa por todo aquele momento de "luto". O outro tipo de funeral é o que particularmente me preocupa e amedronta, são os funerais de gente que você conhece mas que não era muito próximo de você.

Esse tipo de funeral é horrível.

Para começar você chega ao funeral meio sem entender o porque você está ali. Todas as pessoas a sua volta estão se derretendo em lágrimas, normalmente abarrotado de gente num lugar quente, e todos querem falar alguma coisa sobre o falecido.

Assim que você entra no local você fica com aquela sensação de que você não deveria estar ali. Você não sente a dor que aquelas pessoas estão sentindo. Você não pertence àquele lugar.

Passado um pouco desse choque inicial, e já um pouco mais convencido de que você deveria prestar essa última homenagem àquela pessoa conhecida, você passa para o segundo passo do estranhamento: todos estão chorando.

Chorar não é o problema, o problema de verdade é que você não sente a mínima vontade de chorar, não porque você não gostava do falecido, mas porque você não tinha esse contato todo. Nesse momento já está completamente desavontade naquele lugar. A situação piora quando alguém do seu lado começa a chorar descontroladamente. Se você for como eu, nesse momento você não vai ter a mínima idéia do que fazer, justamente porque não há o compartilhamento daquela dor horrenda que a outra pessoa está sentindo.

Então nesse momento você meio sem jeito tenta consolar a pessoa com um abraço ou uma passadinha de mão nas costas, ou um beijo no rosto. Daí podem acontecer duas coisas: ou a pessoa desaba mais e "caí" no choro se segurando em você, eu ela nem percebe que você está lá, tamanha a dor que ela sente.

Passado esse problema desconcertante temos uma situação na qual estive essa semana: você de repente, no meio da situação, sente vontade de chorar, não por causa do falecido, mas porque todos estão chorando e você acha comovente (ainda mais eu que sou uma manteiga derretida). Aí fiquei eu com a dúvida na cabeça: choro e me junto ao coro, ou tento ignorar essa vontade que vem do nada?

O problema era o seguinte: eu sabia que eu não queria chorar por causa do falecido, e isso me deixou num embate, onde eu achava que seria desrespeitoso chorar por qualquer outro motivo que não fosse o falecido, uma vez que todos que estavam chorando sentiam uma dor que vinha do fundo da alma, e eu não.

E o dilema persistiu por alguns momentos, mas acabei por fim decidindo não chorar.

Todos os dilemas foram permeados por um extremo desconforto.

Quando o corpo foi finalmente enterrado tive uma sensação de alívio profunda. Ufa! Acabou. E por incrível que pareça, eu senti que muitas das pessoas que estavam lá comigo, até muitas que estavam chorando, pareciam ter sentido o mesmo. Acabou. Para sempre.

E repito, odeio funerais.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Coisas Divergentes


Olá você que lê o meu blog,

hoje senti uma vontade imensa de postar algo mas estou sem imaginação e com vontade de postar outra coisa. Hoje vou falar um pouco sobre um outro projeto que eu tenho que é o mangá online Em Busca do Poder.

O Em Busca do Poder é uma história em quadrinhos online totalmente gratuita, da qual eu sou roteirista.

A história do mangá relata a saga de Prince, um jovem mestre da magia que precisa passar por cima de alguns de seus princípios para poder impedir uma guerra entre os deuses.

A história começa bem cedo quando Prince ainda era criança, e agora já estamos no volume 4 da série, onde Prince já é adulto, um mago muito poderoso, e já está cumprindo seu destino, impedir a grande guerra entre os 3 deuses de seu mundo: Homilis, Magilis e Mórfilis.

Para saber mais sobre esse grande trabalho que eu e mais de 20 pessoas fazemos é só acessar: http://www.embuscadopoder.com/ e conhecer o incrível mundo de Prince e seus amigos.

Aviso aos desavisados: embora a história pareça bem infantil no início essa característica começa a mudar no capítulo 4 e mais para frente acaba se tornando ate bastante sombria.

Aguardo a sua visita no Grande Continente!

sábado, 29 de janeiro de 2011

Areia Branca - Parte 02/02

Caminhei mais um pouco pela areia, aqueles pés me seguindo. As pessoas na areias não me enxergavam, pareciam todas em um transe. Eu andava por entre seus corpos morenos apáticos, era como se o tempo fosse outro para mim.

Por mais livre que meu corpo parecesse, minha mente estava aprisionada, meus pensamentos foram eternamente amaldiçoados a repassar aquele momento, como num looping do tempo que se repete infinitamente.

Eu pensava na praia, nas pessoas, mas não pensava realmente nisso, aquelas imagens ficavam nesse looping maldito em minha mente. Não pensava realmente em nada. Às vezes tentava lembrar do que queria ser quando crescesse. Era difícil.

Talvez eu quisesse ser pássaro, essa seria uma boa idéia, era uma boa idéia de liberdade. Ou quem sabe talvez, quisesse ser um daqueles ricos das praias da Cidade do Cabo. Talvez não. Eu gostava mais da sensação do proibido. Talvez quisesse ser como meu pai. Não. Eu nunca conheci o meu pai.

Como vê, já não lembrava com muita clareza da minha infância. Parecia outra vida. A vida de outra pessoa, que eu havia assistido, como numa tela de cinema, e tivesse passado, um filme bom, mas sem muitos espectadores.

- Moço!

Eu virava, e sempre aquela falsa sensação de que a pessoa me enxergava. Sim, ela falava comigo, mas não exatamente comigo. Aquela imagem que todos viam era uma máscara que eu havia criado para proteger meu eu verdadeiro. Proteger aquela pessoa dentro de mim machucada, dilacerada, amputada de mim mesmo.

Era assim, eu me olhava no espelho e não reconhecia a mim mesmo, claro, já estava be diferente de quando eu tinha saído d'África, mas não parecia o mesmo, mas às vezes, olhava bem lá no fundo e pensava que podia ver, aquela criança que um dia eu havia sido, mas eu sabia que eu a havia perdido a muito tempo atrás, nas areias brancas da Cidade do Cabo.

Muitas coisas de mim ficaram lá na Cidade do Cabo. Minha infância e minha inocência principalmente. Na Cidade do Cabo eu me tornei adulto quando ainda tinha corpo de criança, e perdi minha alma justo no momento em que eu mais precisaria dela. Outras coisas ficaram lá também. Lembranças dessa vida que eu tive e que teima em se mostrar como a vida de outra pessoa.

Depois de muito tempo passado daquele dia, daquele momento, eu finalmente me deparei com a verdade límpida que não foi escrita, e que se mostrava para mim nessas areias: eu morri naquele dia.

Talvez isso aqui seja só uma ilusão. Talvez esse passarinho voando na minha janela seja uma ilusão, um sopro de vento. Mas eu não estou mais aqui para saber.

Aqueles pés que encontrei na areia são meus, e eles caminham novamente pela areia branca da Cidade do Cabo, mas é um lugar que eu não reconheço. Vazio.

Espero que Deus venha me encontrar aqui. Eu sei que em alguma hora ele tem que vir. E então poderei dizer a ele: "Já não era sem tempo, Senhor".

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Areia Branca - Parte 01/02


Caminhei pela areia quente de cabeça baixa até me deparar novamente com aqueles pés cansados e enrugados que um dia fizeram parte da minha história.

Era tão estranho. Eu sabia que eles não estavam realmente ali, porque todas as outras pessoas naquela praia desviavam o olhar cada vez que viam os pés, assim como todas as memórias daquele tempo, ao contrário, teimavam em permanecer quanto mais eu olhasse para eles. É estranho como nos tornamos invisíveis ao mundo depois de passar por aquele tipo de experiências.

Aqueles pés estiveram presentes em muitos momentos da minha vida. Em certo ponto nós ficamos intangíveis e nos tornamos apenas pegadas deixadas na areia, que se vão com as águas.

Estivemos juntos na África. Na mãe África. Toda aquela crença de que um dia sairíamos daquela miséria, daquela fome, se tornaram reais, mas com um custo muito alto. Um custo tão alto que preferia não ter tido que pagar por ele. A liberdade do meu corpo não valeu a perda da minha alma. A minha alma foi há muito tempo enterrada, nas areias d'África.

Aquelas areias da praia que entravam por entre os meus dedos fazendo uma cosquinha de leve, me lembravam da minha infância, lá nas areias caras e brancas da Cidade do Cabo. Os ricos corpos bracos e louros que quase se misturavam com a areia e desfilavam pelas areias jamais saberiam que à noite as areias se entregavam aos corpos negros como uma mulher em sua noite de núpcias.

Eu e meus amigos pisávamos a areia calmamente, com medo de sermos ouvidos das casas gigantescas (pelo menos aos nossos olhos). Aquela primeira pisada na areia era tão prazerosa. Aquela sensação das areias entrando por entre os dedos sempre me pareceu algo proibido. Algo que não me pertencia, e ao qual eu também não pertencia.

Hoje, já nas areias queimadas das praias brasileiras podia sentir aquela mesma sensação, e agora, já sem aquela intrínseca imaginação infantil podia constatar que pisar nas areias e senti-las entrando por entre meus dedos era a única forma que eu tinha de me sentir livre de novo.

Cariocas

Poesia escrita para a matéria Teoria da Percepção do curso de cinema da UFF. O título que deveríamos usar para o trabalho era: "A Cidade sou eu". Funciona melhor se lida ao mesmo tempo em que se escuta Cariocas da Adriana Calcanhoto

Fecham-se em suas casas os cariocas
Fogem e escondem-se de si mesmos.
Atrás de muros, grades e câmeras.
Vigiam atentamente os cariocas,
cada rua esquina ou beco.
É sensato que nos tranquemos enquanto a violência anda solta por aí?
Temos, ao que parece, o dever de nos proteger,
e a violência, o direito de existir impune.
Esquecem-se de suas praias os cariocas.
Olham atentamente atráves das grades as ondas libertas do mar.
Ah, como eu queria ser mar...
Mas isso não pode carioca.
Seu destino é ser prisão.

Fica na cabeça então a dúvida:
O que é ser carioca?
Ou melhor, o que é ser cidadão?