"Se não é pela arte, pra que a alma pesando o corpo?" - Caio Soh

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Pedaços, retalhos, recortes e afins

E se eu não quisesse me apaixonar?
E se eu não quisesse me partir em dois cada vez que te vejo?
E se me partir em dois fizesse parte da minha natureza?
Me quebrar e me partir e me dividir em dois...
cada vez que abro os olhos pela manhã.
Deixar um pedaço de mim cada vez que me movesse
uma impressão da minha vida, uma impressão minha em cada ambiente.
E se o seu trabalho fosse juntar os pedaços,
atar os cacos, colar-me em ti...
Colar-me em mim, e descobrir-me aos poucos.
Para enfim descobrir-me inteira algum dia.
Não é disso que a vida é feita?
De deixar-se a cada momento para trás
e descobrir pedaços de outros...
Até que enfim os pedaços se juntem em um único indivíduo
Junto de vários outros,
onde dois pedaços metamórficos e retalhados se juntem
Em apenas um pedaço. Pedaço inteiro. Dois que são um.
Juntos.
A história da vida.

sábado, 20 de agosto de 2011

Raiva

Me perco nas entranhas de mim mesma. É assim que devia ser?
Uma raiva desconhecida me consome e eu nem ao menos sei do que se trata.
Preciso colocar a mão fundo, dentro daquilo que me come por dentro, e arrancá-lo sem demora e sem promessa. Sem a esperança de que se esvaia no com-sentimento mútuo da saudade.
Se o sangue sair e as entranhas se contorcerem no processo, prometo que não conto aquele segredo nosso guardado à sete chaves.
A raiva é guardada por 100% das pessoas que possuem nervos, estômagos, dores e plantas do pé.
A escrita compulsória que me consome e me tange como um mar a céu aberto, é apenas uma extensão do meu corpo insólito que de branco se veste quando sente você se aproximar.
É caça caída na escuridão da noite esperando o abate do dia consecutivo.
A raiva roendo as veias, como uma urticária alcoólica se mostra voraz e veloz assim que se abrem os primeiros momentos alvos.
Me batem ruidosas as ondas daquele mar insípido. Despejam o óleo verossímil em minha pele que arde ao simples toque. Não sou verossímil, sou lembrança. Sou desejo, sou ardência, sou raiva, sou vermelho. Doce, quente, tenro e vermelho.
Essa cor que me pinta as maças do rosto e me enche de angústia, que me acelera o peito, líquido e corrente, assim que se escancaram as primeiras portas de meu ser.
A lâmina prateada e fria que corta você em mim, que corta ansiedade incessante pela morte.
Anseio na noite quente e úmida para que o dia cegante chegue e me tire da incerteza.
E ele sempre chega. Indubitavelmente imperceptível.