"Se não é pela arte, pra que a alma pesando o corpo?" - Caio Soh

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Odeio Funerais

Não gosto de funerais, isso é um fato. Mas acho que de fato ninguém gosta.

Mas o meu não-gostar não se deve ao fato de o funeral envolver morte e dor e etc. A morte é algo que acontece, e vai acontecer com todo mundo, antes ou depois do que você imagina, e a dor de alguns é inevitável, então não é isso que me desgosta nos funerais.

Para mim há 2 tipos de funerais: aqueles em que pessoas próximas morrem (amigos, família, etc) em que você fica completamente desolado e chora, e sente a dor, e passa por todo aquele momento de "luto". O outro tipo de funeral é o que particularmente me preocupa e amedronta, são os funerais de gente que você conhece mas que não era muito próximo de você.

Esse tipo de funeral é horrível.

Para começar você chega ao funeral meio sem entender o porque você está ali. Todas as pessoas a sua volta estão se derretendo em lágrimas, normalmente abarrotado de gente num lugar quente, e todos querem falar alguma coisa sobre o falecido.

Assim que você entra no local você fica com aquela sensação de que você não deveria estar ali. Você não sente a dor que aquelas pessoas estão sentindo. Você não pertence àquele lugar.

Passado um pouco desse choque inicial, e já um pouco mais convencido de que você deveria prestar essa última homenagem àquela pessoa conhecida, você passa para o segundo passo do estranhamento: todos estão chorando.

Chorar não é o problema, o problema de verdade é que você não sente a mínima vontade de chorar, não porque você não gostava do falecido, mas porque você não tinha esse contato todo. Nesse momento já está completamente desavontade naquele lugar. A situação piora quando alguém do seu lado começa a chorar descontroladamente. Se você for como eu, nesse momento você não vai ter a mínima idéia do que fazer, justamente porque não há o compartilhamento daquela dor horrenda que a outra pessoa está sentindo.

Então nesse momento você meio sem jeito tenta consolar a pessoa com um abraço ou uma passadinha de mão nas costas, ou um beijo no rosto. Daí podem acontecer duas coisas: ou a pessoa desaba mais e "caí" no choro se segurando em você, eu ela nem percebe que você está lá, tamanha a dor que ela sente.

Passado esse problema desconcertante temos uma situação na qual estive essa semana: você de repente, no meio da situação, sente vontade de chorar, não por causa do falecido, mas porque todos estão chorando e você acha comovente (ainda mais eu que sou uma manteiga derretida). Aí fiquei eu com a dúvida na cabeça: choro e me junto ao coro, ou tento ignorar essa vontade que vem do nada?

O problema era o seguinte: eu sabia que eu não queria chorar por causa do falecido, e isso me deixou num embate, onde eu achava que seria desrespeitoso chorar por qualquer outro motivo que não fosse o falecido, uma vez que todos que estavam chorando sentiam uma dor que vinha do fundo da alma, e eu não.

E o dilema persistiu por alguns momentos, mas acabei por fim decidindo não chorar.

Todos os dilemas foram permeados por um extremo desconforto.

Quando o corpo foi finalmente enterrado tive uma sensação de alívio profunda. Ufa! Acabou. E por incrível que pareça, eu senti que muitas das pessoas que estavam lá comigo, até muitas que estavam chorando, pareciam ter sentido o mesmo. Acabou. Para sempre.

E repito, odeio funerais.

Um comentário:

  1. Passei por uma situação muito parecida. O enterro da minha avó. A questão é que eu simplesmente não gostava dela, mas nunca havia entrado nesse mérito com meus pais (nem comigo na vdd). Ela nunca me fez nada que motivasse isso, porém era uma pessoa extremamente mesquinha que subjulgava meu pai e meu irmão o tempo inteiro. E vê-los mendigando atenção me incomodava. E muito.

    Ela morreu há 10 anos, tinha 11 na época, e foi estranhíssimo pois quando aconteceu eu senti o tal alívio. Em meio ao caos de providenciar o enterro e ir para o cemitério não tive tempo para pensar em muita coisa, havia muito a minha volta, porém no velório a questão me caiu com um baque surdo. Eu não queria chorar pois nunca a amei, e pior que isso, estava feliz que ela tivesse morrido. Passei muito tempo, anos achando que eu era uma pessoa ruim, má, por causa desse ocorrido. Durante esse tempo, eu fui a melhor pessoa dessa dimensão, pois morria de medo que desse pinta e alguém descobrisse o quão horrível eu era... rsrs

    Hoje rio lembrar disso, mas sei que essa dúvida mudou muita coisa em mim... acho que eu escangalhei em algum momento, não sei se foi nesse.

    Muito bom panda!!!! Vc escreve pra caralho Tássia!!!! e Obrigada pelos elogios rs... tb to com saudades, podíamos fazer uma sessão nostalgia, q achas?

    Beijos

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