"Se não é pela arte, pra que a alma pesando o corpo?" - Caio Soh

sábado, 20 de agosto de 2011

Raiva

Me perco nas entranhas de mim mesma. É assim que devia ser?
Uma raiva desconhecida me consome e eu nem ao menos sei do que se trata.
Preciso colocar a mão fundo, dentro daquilo que me come por dentro, e arrancá-lo sem demora e sem promessa. Sem a esperança de que se esvaia no com-sentimento mútuo da saudade.
Se o sangue sair e as entranhas se contorcerem no processo, prometo que não conto aquele segredo nosso guardado à sete chaves.
A raiva é guardada por 100% das pessoas que possuem nervos, estômagos, dores e plantas do pé.
A escrita compulsória que me consome e me tange como um mar a céu aberto, é apenas uma extensão do meu corpo insólito que de branco se veste quando sente você se aproximar.
É caça caída na escuridão da noite esperando o abate do dia consecutivo.
A raiva roendo as veias, como uma urticária alcoólica se mostra voraz e veloz assim que se abrem os primeiros momentos alvos.
Me batem ruidosas as ondas daquele mar insípido. Despejam o óleo verossímil em minha pele que arde ao simples toque. Não sou verossímil, sou lembrança. Sou desejo, sou ardência, sou raiva, sou vermelho. Doce, quente, tenro e vermelho.
Essa cor que me pinta as maças do rosto e me enche de angústia, que me acelera o peito, líquido e corrente, assim que se escancaram as primeiras portas de meu ser.
A lâmina prateada e fria que corta você em mim, que corta ansiedade incessante pela morte.
Anseio na noite quente e úmida para que o dia cegante chegue e me tire da incerteza.
E ele sempre chega. Indubitavelmente imperceptível.

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