"Se não é pela arte, pra que a alma pesando o corpo?" - Caio Soh

sexta-feira, 4 de março de 2011

Amor Puro

Essa semana eu andava pela rua desavisada de que iria ouvir uma história maravilhosa.

Voltava da faculdade, dia cheio, andava rápido, precisava pegar o ônibus. Chovia um chuva fraquinha daquelas que molham.

De repente me chegou aos ouvidos a voz de um homem que caminhava ao meu lado.

Ele, ao que parecia, conversava com um amigo no telefone contando uma ida a um restaurante. Nesse restaurante o homem conheceu uma mulher, e ele, se apaixonou. Não me pareceu saber seu nome, mas se apaixonou.

É possível que ainda existam homens à moda antiga? Nunca havia pensado que eu ia presenciar esse tipo de conversa, o homem falava ao telefone: "[..] eu não conseguia parar de olhar para ela. Ela era simples sabe? Do tipo que não precisa de maquiagem para ficar bonita? A simpatia dela deixava ela bonita. Eu não consegui parar de olhar para ela enquanto comia. O garçon foi falar pra ela: 'Aquele senhor pediu para dizer que não conseguiu tirar os olhos da senhora desde que a senhora entrou no restaurante'".

O homem estava realmente falando da mulher como se tivesse acabado de encontrar o amor da sua vida.

Foi uma lufada de ar quente no coração em meio àquela chuvinha, àquele dia cheio. Me senti novamente esperançosa diante das possibilidades da vida.

Estamos precisando de mais homens assim na nossa convivência, homens que sejam capazes de se apaixonar pela simpatia de uma mulher num almoço de segunda-feira. Homem que contem aos seus melhores amigos (pelo telefone mesmo, antes de pegar um engarrafamento), como uma mulher não precisa de maquiagem para ser bonita, como a simplicidade pode ser apaixonante.

À você, pedestre trabalhador apaixonado de segunda-feira, meus cumprimentos, você possui a atitude certa para nos fazer acreditar novamente que o amor puro é possível, o amor simples.

E citando, um daqueles que é o meu ídolo: "Um amor puro, não sabe a força que tem [...]", Djavan.

quinta-feira, 3 de março de 2011

Sensações de Viagem

Você já viajou? Não quero dizer viagem de avião, nem de ônibus, nem viagem internacional.

Tô falando daquela viagem de verdade, de pegar o carro, se jogar na estrada, dirigir durante o dia, dormir à noite, e andar, meio sem rumo.

Quando eu era menor, eu, meus pais e meus irmão fizemos duas grandes viagens de carro, que duraram cerca de 20 dias cada, uma para o sul do país e outra para o nordeste.

Saíamos de casa ainda dormindo às 5 da manhã e rumávamos para a estrada, meio sem saber aonde íamos parar. Tínhamos o destino final sempre, na viagem do sul, Arroio do Meio (RS) onde mora uma tia minha, na viagem do nordeste, Porto Seguro (BA), mas obviamente, meu pai e minha mãe não ficaríam dois dias dirigindo direto, então, viajávamos pela manhã, na hora do almoço, ou mais tarde (umas 3 horas) parávamos em alguma cidade, rodávamos para conhecer um pouco, dormíamos e voltavamos às estradas no dia seguinte bem cedo.

Digo: "Não há nada como a sensação de viajar de carro". Aquela despreocupação, o prazer em rodar por estradas maravilhosas, paisagens bucólicas, conhecer o Brasil maravilhoso.

Nada se compara a sensação de se perder na estrada. É um medinho lá no fundo, mas uma vontade enorme de continuar na peregrinação, fazer enormes voltas, achar que o lugar onde você está não está no mapa, e segundos depois descobrir que vc tava olhando o mapa do lado errado. É sensacional. Impagável.

Era preciso que todos fizessem pelo menos uma viagem dessas na vida, pegassem o carro e saissem sem rumo. Quando desse vontade de voltar pra casa, voltassem.

Dessa forma que conheci locais maravilhos do Brasil: Floripa, Curitiba, Porto Alegre, Conceição da Barra (onde voltei no ano seguinte, e no seguinte), Blumenau, Balneário de Camboriu, Vitória, e muitas outras cidades.

A sensação de liberdade é embreagante, é viciante. Viajar é o meu vício, amar meu país.

Viajem! De carro, de bicicleta, de avião, de ônibus, à pé, de qualquer forma, viajem!

quarta-feira, 2 de março de 2011

Velas à todo Pano

Esse texto eu escrevi para o site do mangá que eu participo: Em Busca do Poder, para quem quiser entender melhor o texto dê uma olhada no site!

- Velas à todo pano, marujos! Meia guinada à estibordo! Inimigos à três horas!

- Sim senhor, capitão! Vocês ouviram o capitão, vamos acabar com esses bastardos! Façam com que Mórfilis leve com prazer esses escravos para o fundo do mar.

Já fazia algum tempo que o Capitão Joe “Bala de Canhão” vagava pelo mar atrás do grande e lendário navio do Capitão Krug, que dizia-se: era o único que seria capaz de derrotar o Dama Negra, o navio de Joe.

Esse dia havia chegado, quando vira o navio se aproximando no horizonte Joe sabia que aquele era o momento pelo qual havia esperado toda a sua vida, após aquela batalha ele seria o maior pirata de todo o Grande Continente.

Já chovia fazia alguns dias, o mar já não estava tão revoltado, mas a chuva insistia em cair. Enquanto o Dama Negra rodeava o Águia Marinha, Joe olhava penetrante para a proa do navio inimigo onde, ele sabia, estava Krug, seu adversário tão esperado.

Os canhões de Krug já mostravam à tripulação do Dama Negra que eles não estavam para brincadeira. O Dama Negra já havia sido avariado e nem sequer havia mandado seus primeiros recados para o Águia.

A curva estava quase completa, os homens de Joe pareciam calmos, sabiam exatamente o que seu capitão estava esperando. Era aquele momento, o exato momento em que os homens de Krug se arrumariam para colocar uma nova bala no canhão, eles já estavam acostumados àquilo, era uma estratégia básica que nas mãos do Capitão Joe parecia mágica, ou como alguns diziam, era pura música, das melhores.

O Capitão Krug andava correndo pelo convés gritando coisas. Joe apenas observava. Calma. Respiração. Ar.

- Fogo!

- Fogo!

Tudo parecia acontecer em câmera lenta, ao mesmo tempo em que Joe gritava fogo para seus subalternos, ouvia o som de Krug gritando fogo no meio da chuva. O estampido dos canhões deixou todos surdos por um momento, a fumaça subiu contrariamente à vontade da natureza, e por um momento todos perderam a visão no meio dos destroços e da fumaça que subiam.

Não levou muito tempo até perceberem que o hangar onde estava Joe na proa havia sido atingido, e que o capitão estava no chão.

A bela imediata de Joe subiu correndo até onde estava o capitão. Todos sabiam que diferentemente de muitos ali ela não temia a morte, não temia o inimigo.

Joe não perecia muito bem. O sangue escorria por sua perna, um imenso pedaço de madeira havia se soltado e entrado na lateral da barriga de Joe. Vitória, a imediata, havia sido apadrinhada por Joe havia muito tempo, então sentia a perda de seu capitão e de seu padrinho.

- Vitória, minha querida, esse navio sempre foi seu, agora acho que finalmente chegou a hora de você reivindicar seus direitos...

- Não, esse navio sempre será seu, capitão.

- Vitória, um bom pirata sabe quando não tem muito tempo mais de vida, e eu sei que sou um bom pirata. O navio é seu, e eu sei que você saberá como utilizá-lo. Esse capitão não é páreo para o que você aprendeu todos esses anos. É preciso sentir o navio, e você tem o coração para isso. Tome o controle desse leme marujo, isso é uma ordem.

- Sim capitão, como quiser.

Vitória tomou o leme em suas mãos e estava decidida, pois sabia exatamente o que fazer. Girou o leme fazendo com que o barco virasse à bombordo. A tripulação olhou nervosa a nova capitã. O que você está fazendo? Fugir não é uma opção quando se está no Dama Negra, capitã.

Vitória não ouvia nenhuma das reivindicações da tripulação, precisava levar o navio um pouco mais à frente, ela sabia exatamente como acabar com o Águia. Krug ria da nova capitã no leme.

Mais um pouco à frente...

- Atirem no Águia com o que tiverem à mão! Aquele navio precisa seguir o Dama Negra!

Então a população entendeu exatamente o que ela estava querendo fazer. A antiga arrebentação nas margens da Baía de Daiamost, não era um desafio muito grande atravessá-las, quando se estava prestando atenção nelas. Pela fama do Capitão Krug, Vitória sabia exatamente o que ele ia fazer. Sua fama de obsessivo era conhecida por todo o Grande Continente, ele nunca parava antes de afundar o navio, era exatamente o que Vitória queria.

Krug só teria olhos para o Dama Negra, ele jamais se lembraria de olhar a arrebentação, ainda mais com aquela chuva.

O Dama Negra avançava rapidamente quase deixando o Águia para trás. A chuva insistente limitava o alcance da visão de Vitória, porém ela sabia exatamente por onde estava navegando, já tinha feito aquele mesmo caminho tantas vezes com o Capitão Joe que achava que conseguiria navegar por ali de olhos vendados.

Krug avançava obcecado pelo Dama, era um belíssimo navio, e Vitória acreditava que ele queria incorporar ele à sua frota, preferia morrer afogada junto com o Dama Negra a ter que entregar seu navio à outro Capitão.

A arrebentação estava próxima e com alguma facilidade Vitória atravessou-a, o Águia vinha atrás.

Como se houvesse previsto o que iria acontecer, Vitória viu o Águia parar. Parecia que Krug havia ficado preso em uma das pedras altas da arrebentação, tão previsível...

Sem perder tempo Vitória virou seu navio e o colocou na posição perfeita para atirar no Águia.

Em alguns minutos os destroços do barco afundavam, e a tripulação se jogava do navio para a água. Eles não teriam salvação, Vitória já havia oferecido o navio à Mórfilis, e ele não deixaria que eles se fossem assim tão facilmente.

Vitória avistou, mesmo com dificuldade, uma grande onda se formando no horizonte. A onda crescia cada vez mais.

- Marujos, não desejo ficar aqui para que aquela onda leve o meu navio. Içar velas auxiliares, quero velocidade nesse navio.

A onda se aproximava cada vez mais e o navio ainda não havia se movido. A tripulação desesperada não conseguia seguir as ordens de Vitória.

A onda alcançou o barco mais rápido do que todos esperavam e antes que pudessem pular do navio ou fugir de alguma forma o navio já estava virando para dentro da água.

Vitória viu sua tripulação cair dentro d’água e depois se viu fazendo o mesmo. No instante em que tocou a água Vitória entrou em um turbilhão, começou a rodar embaixo d’água e desmaiou.

Vitória podia ver relances de seus marujos nadando desesperados, e outros mortos afundando, e por fim ela viu, lá no fundo das águas, ou o que ela achou ser o fundo, uma imagem bem familiar pros piratas. Ela viu um rosto, um rosto em chamas, mas antes que ela pudesse alcançá-lo, apagou novamente.

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Vitória abre os olhos e estranhamente está na antiga cabine do Capitão Joe, porém a cabine não é mais do jeito que era. Parece que todas as suas coisas foram trazidas para a cabine.

A Capitã se encaminha para a porta de seus aposentos e a abre lentamente.

- Bom dia, Capitã!

Todos os marujos estão de volta ao convés do Dama Negra, que repousa calmamente nas areias da Cidade de Tiligari.

- Como isso é possível?

- Desculpe, capitã, o que foi?

- Monlut, quem retirou o barco das águas da Baía.

- A Senhora capitã? Não se lembra? Há alguns dias saímos da Cidade do Porto e viemos até Tiligari para entregar um dos contrabandos de metais.

- Mas e a grande onda, e o navio Águia Marinha, e o Capitão Joe?

- Desculpe senhora, mas não sei do que a senhora está falando, deve ter sido um sonho. A senhora precisa de alguma coisa, capitã?

- Não Monlut, está tudo bem.

Mas não estava, e mente de Vitória não parava de dar voltas. Um sonho? Mas ela tinha visto claramente tudo o que aconteceu. O rosto, ela se lembrou repentinamente. Parecia que Mórfilis estivera brincando com a nova capitã.