"Se não é pela arte, pra que a alma pesando o corpo?" - Caio Soh

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Proseando sem nome nº 01


Hoje acordei com fome. Fome de poesia.

Fui até a cozinha, mas haviam acabado os raios de sol.

Subi as escadas com pressa para acordar minha irmã que dormia pesadamente sobre o travesseiro de sonhos dado a ela por nosso pai. Encontrei a cama vazia.

Minha irmã já voava pela janela ao encontro do dia que todo dia teimava em aparecer por lá.

Segui meus próprios passos de volta à cozinha. Que lugar mais perfeito para se começar um dia. Onde mais eu poderia tomar minha dose diária de tudo aquilo que me fortalece?

Onde mais encontraria minha dose diária de proparoxítonas e hiatos?

Apareceu hoje na cozinha uma prosa voadora. Pousou bem no parapeito de minha idéia e me olhou indagante como se quisesse permanecer por ali. Mas como toda boa prosa rapidamente voou antes que fosse possível alimentar-lhe com um pouco de esforço.

Após a prosa, se apossou de mim uma imensidão crescente. Teimou, teimou e ficou em mim. Cresci a ponto de agarrar-me ao céu, e tomar os raios de sol matinais no gargalo do dia.

Vi ao longe um paraíso particular, meu paraíso particular. Lá deitava-me sobre a grama e cantava esvaindo do peito toda dor da vida até que não pudesse ouvir minha própria voz, era como ser feliz para sempre.

Percebi então que não estava sozinha, me abraçava tímida uma vontade de ser vento; pés no chão, cabeça no céu e olhos no horizonte. Tudo se desfez diante daquele toque, e fui me juntar a vida que corria à passos largos, como se quisesse bater o record mundial daquilo que não existe.


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